4 de dezembro de 2006

No início...

Amor desta tarde que arrefeceu
as mãos e os olhos que te dei.
Amor exacto, vivo, desenhado
a fogo, onde eu próprio me queimei.

Amor que me destrói e destruiu
a fria arquitectura desta tarde,
Só a ti canto, que nem eu já sei
outra forma de ser e de encontrar-me.

Só a ti canto, que nao há razão
para que o frio que me queima os olhos
me trespasse e me suba ao coração.

Só a ti canto, que não há desastre
donde não possa ainda erguer-me
para encontrar de novo a tua face...

Eugénio de Andrade

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